O historiador foi um dos convidados do seminário sobre a visita do Papa, que decorreu a 26 de Março em Fátima. Debruçou-se sobre a crise de valores nas sociedades modernas
O historiador foi um dos convidados do seminário sobre a visita do Papa, que decorreu a 26 de Março em Fátima. Debruçou-se sobre a crise de valores nas sociedades modernasÀ pergunta: O que valem, hoje, os valores?, Pacheco Pereira dá duas respostas complementares. Valem muito pouco, começa. Mas apesar de valerem muito pouco, há um vazio no seu lugar que vale muito, explica. Embora haja uma crise de valores nas sociedades contemporâneas, observa-se uma tentativa de substituir esse vazio por outro tipo de aproximações desses mesmos valores.
Há que ter em conta o aumento da descrença nas sociedades. Este iniciou-se no século XV, XVI. Contudo, o sistema de valores que correspondiaà identidade das sociedades permaneceu relativamente intacto até ao século XX. Na época e a partir de então, o que é que nos tínhamos de novo?, questiona o historiador. Uma verdadeira revolução: O acesso das massas a bens que atéaí estavam afastados. Refere-se a bens de consumo, electrodomésticos entre outras coisas, que trouxeram algum conforto às populações. Mas também, a bens espirituais, como as férias. O aumento do tempo livre e do consumo, não inteiramente material, mudou as sociedades. O fenómeno criou os padrões de consumo de massas. Deu origem às audiências de televisão, exemplificou.
O acesso de um grande número de pessoas a bens de carácter cultural e espiritual mudou o equilíbrio das sociedades. Porque é que hoje é mais difícil pensar? Porque é que hoje há uma degradação do vocabulário?. Estamos perante uma relativização da sociedade. Pacheco Pereira fala numa sociedade dominada pelo espectáculo. a espectacularização da mesma é em grande parte o resultado de que nós não somos perfeitos e dependemos dos nossos sentidos, explica. Tal facto cria um obstáculo ao pensar’ eà disseminação do sistema de valores. Traz também algumas alterações na vida diária das pessoas. Vamos viver, de alguma maneira, uma nova forma de ópio do povo – a satisfação mais imediata dos nossos sentidos.