“Importava que Cristo padecesse, e ressuscitasse dos mortos ao terceiro dia, e que, em Seu nome, se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todos os povos”
“Importava que Cristo padecesse, e ressuscitasse dos mortos ao terceiro dia, e que, em Seu nome, se pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todos os povos”apresenta-nos o evangelho deste domingo qualquer coisa que talvez nos tenha acontecido a todos nós uma vez por outra, ou mesmo muitas vezes: caminhar ao lado de Jesus, e mesmo conversar com Ele, sem O reconhecermos deveras como Messias e nosso Salvador. Foi este o relato feito aos onze apóstolos pelos dois discípulos de Emaús no evangelho de hoje. Pertenciam ao grupo dos setenta e dois, que Jesus mandara, dois a dois, à sua frente às aldeias e cidades onde Ele mesmo iria pregar.com a morte de Jesus, perderam-se de coragem e cometeram um erro muitas vezes fatal: abandonaram a comunidade dos amigos de Cristo. Neles, o desânimo era mais forte do que a fé no Senhor Jesus e nas suas palavras e promessas.
a comunidade é o lugar ideal para a vida em Cristo, pois nela está Ele presente (cf. Mateus 18,20). Recordo a propósito um documentário sobre a migração das renas nos países nórdicos. No início do Verão de cada ano, migram elas mais para norte em cata de pastagens. Viajam todas juntas numa longa e larga fileira. a uns dez metros de distância, do lado de fora, caminham grupos de lobos sempre à espera que alguma delas cometa o erro de abandonar o grupo. Se alguma rena se afasta das outras, por doença ou descuido, caem-lhe os lobos em cima.cometem às vezes o mesmo erro aqueles que por diversas razões, sem muito sentido mesmo, abandonam a comunidade de Cristo, tornando-se assim, presa fácil de várias maneiras de perder o Senhor e a sua palavra. Na Igreja, na Eucaristia, na oração em comum encontra-se o Senhor Jesus mais facilmente.
Pedimos a Deus um favor profundamente pascal: Exulte sempre o vosso povo, Senhor, com a renovada juventude da alma… . Cada domingo, durante a Eucaristia, renova-se a juventude do nosso ser cristão, de toda a nossa pessoa, especialmente quando dignamente recebemos o Corpo e o Sangue de Cristo ressuscitado, que é possuidor duma vida nova, que Ele, na Comunhão, partilha connosco. Por isso o Povo de Deus, que é a família dos filhos e das filhas de Deus, é sempre um Corpo novo, renovado pela acção eucarística no Espírito Santo.
Contaram os dois de Emaús que não tinham reconhecido Jesus quando Ele se lhes juntou no caminho. Há momentos na vida em que são mais as nuvens do que as nesgas de sol, em que reconhecer a Jesus se torna um frete quase insuperável. Mas Ele está lá, ao nosso lado: na lágrima de um aluno desanimado porque os estudos não correm bem; no silêncio triste de uma avó viúva; no abatimento de um pai de família que não consegue encontrar trabalho; ou na solidão de uma mãe que não é capaz de entrar no coração do seu filho minado pela droga; no desespero e no negrume da alma da mãe solteira que terminou a vida do bebé que habitava o seu seio; ou na perplexidade de quem vive na mesma casa com várias outras pessoas e sente dificuldade em relacionar-se com quem quer que seja; na dificuldade em reconhecer o amor de Deus para com aqueles que nos são antipáticos…
Reconhecer Jesus na multiplicidade dos casos da vida humana é também um dom que o Espírito Santo dá, gratuitamente, àqueles que vivem com Ele e n’Ele e que vastas vezes lho pedem. Muitos cristãos dos nossos dias, como parece ter acontecido aos dois discípulos de Emaús, sabem muito pouco acerca da vivência de Jesus nos seus irmãos e irmãs de Baptismo, e em si próprios. Quantos, por exemplo, nunca ou quase nunca pegaram numa revista que se refere à vida e à acção do povo de Deus na Igreja, nesta terra que é sua e nossa e por esse mundo de Cristo além!
Console-nos a prática da verdade por Cristo proclamada na primeira leitura de hoje: Quem guarda a palavra de Deus, nesse é que o amor de Deus se tornou perfeito. assim seja!
aventino Oliveira