Estudos da Universidade da Beira Interior revelam que o consumo crónico de estupefacientes, mesmo de drogas leves, provoca alterações permanentes de personalidade e danifica as funções cognitivas
Estudos da Universidade da Beira Interior revelam que o consumo crónico de estupefacientes, mesmo de drogas leves, provoca alterações permanentes de personalidade e danifica as funções cognitivasInvestigadores liderados pelo professor de Neuropsicologia Luís Maia constataram que as drogas mesmo leves tornam os consumidores crónicos mais irresponsáveis, irritáveis, impulsivos, egocêntricos e com tendência para cometer actos ilícitos, como violência familiar e comportamentos de risco. Sobre as funções básicas da mente, como a memória, atenção, concentração, os dados não permitem ainda uma avaliação exacta, mas remetem para um forte indicador de prejuízo funcional nas capacidades intelectuais de toxicodependentes crónicos, refere a agência Lusa.
Os malefícios do consumo de drogas ao nível da personalidade são verificáveis em adolescentes em franco desenvolvimento, após três ou quatro anos de consumo. No caso de adultos, com características personalísticas já bem marcadas, levará mais tempo. Porém, os danos ao nível cognitivo podem reconhecer-se logo numa fase inicial de consumo. São mais acentuados no uso de substâncias da classe das psicodislépticas, como o MDMa, vulgo ecstasy, o LSD, a heroína e a cocaína. Estas substâncias são capazes de produzir processos psíquicos como a desrealização, despersonalização, problemas de memória e atenção ou concentração, delírios e alucinações, entre outras.
Para o professor do departamento de Psicologia e Educação da Universidade da Beira Interior, todas as drogas provocam um efeito nefasto sobre o cérebro e a mente humana. até mesmo as ditas drogas leves. Se no debate sobre a despenalização das chamadas drogas leves e se nos programas de informação aos jovens todos estes dados fossem passados de forma clara e inequívoca, talvez as opiniões acerca de medidas de redução de risco, como as salas de consumo assistido, não fossem, por vezes, tão banalmente discutidas. Segundo o professor, estes resultados estão já largamente provados no consumo pesado de bebidas alcoólicas e foi a partir deste pressuposto que o estudo sobre os estupefacientes se desenvolveu.
Os consumidores crónicos de bebidas alcoólicas apresentam alterações marcadas das funções cognitivas, desenvolvendo, por exemplo, doenças como demência alcoólica, que impede a pessoa de se recordar de qualquer novo evento. O que os nossos estudos têm vindo a demonstrar é que, a exemplo do que ocorre com as bebidas alcoólicas, se verificam fortes alterações personalísticas em consumidores crónicos de estupefacientes, afirmou o professor. O consumo crónico é considerado pelos investigadores como superior a um período de 12 meses, sem intermitência. O estudo mais recente, de Outubro de 2007 a Julho de 2008, comparou 38 sujeitos, dos quais 19 consumidores de drogas e utilizadores de um serviço de tratamento de toxicodependentes estatal e não consumidores, de ambos os sexos, da região de Viseu.